Ernandes Onassis, chefe da equipe ONS, criou uma das maiores equipes do kartismo nacional
Carioca, 39 anos, competente e que gosta muito de falar. Assim é o preparador Ernandes Onassis. Conhecido também como “Catateco” esta figura carismática criou o que hoje é um dos principais times do kartismo nacional, a ONS.
Em um bate-papo descontraído no Kartódromo Aldeia da Serra, durante a sexta rodada da Copa São Paulo Light, o piloto-preparador deu uma entrevista exclusiva para o site da RBC Preparações, que pode ser lida abaixo:
1) Como você entrou para o mundo das competições?
Eu comecei a correr efetivamente em 1983, com 10 anos, num kartódromo particular no Rio de Janeiro chamado MacMundi. Para mim esta era uma das melhores e mais técnicas pistas que já andei. Tinha várias opções de traçado. Aos nove anos eu ganhei um violão dos meus pais e troquei pelo kart e desde então não parei mais.
2) Nesta época você já tinha tomado gosto por montar o equipamento e preparar o kart ou gostava apenas de pilotar?
Não. No início eu era apenas pilotos e eu andava na equipe do meu primo Rogério. Minha família não aceitava muito a minha opção pelas corridas e eu fui um piloto que andei e parei muitas vezes por conta da falta de dinheiro. Mas, sempre que eu conseguia andar, era competitivo e brigava pelas vitórias. Eu me dedicava muito e prestava muita atenção ao que os mais velhos faziam. Eu era meio que auto-ditada e ficava observando tudo o que os outros pilotos faziam para aprender. Isto eu levo até hoje comigo. Mas, chegou um momento que eu efetivamente precisei parar de vez.
3) E quando foi a sua volta às pistas?
Aos 19 anos eu voltei, competindo de Novatos, e fui campeão. Depois tive de parar novamente, quando meu filho nasceu e, alguns anos depois, voltei a andar novamente como Sênior. Fui campeão de novo no Rio. Me lembro que nesta época o pessoal saia de São Paulo e ia para o Rio correr. Era o inverso do que acontecia hoje.
4) Nesta época já existia a ONS?
Não. Eu trabalhava como uma pessoa normal (risos). Eu tinha uma empresa de terceirização de mão de obra e prestava serviço para grandes transportadoras. Mesmo de longe eu acompanhava meus amigos nas corridas em Juiz de Fora, quando foi fechado o kartódromo do Rio.
Mas, em determinado momento, a empresa tinha alguns problemas e eu como era muito novo e também não estava conseguindo administrar bem o negócio, resolvi fechar a empresa. Aí, virei para a minha esposa e falei com ela que iria trabalhar com o que eu gostava, o automobilismo.
Falei com ela que eu queria fazer, em primeiro lugar, algo que me desse prazer, que me deixasse feliz. O dinheiro seria uma coisa que conseqüência desta opção.
5) E foi fácil esta mudança?
De forma alguma. Foi muito difícil. Nosso meio é muito complicado, vive de altos e baixos, tem muitas intrigas, muitas fofocas e é um ambiente muito difícil. Na verdade eu queria mesmo ter montado uma equipe de F-Chevrolet, mas, na época meu preparador Edu Vargas me aconselhou a efetivamente criar um time de kart visto que as categorias de fórmula eram muito instáveis e a cada temporada umas categorias começavam e outras eram extintas, exigindo assim grandes investimentos todos os anos. Eu aprendi muito com ele.
Mais do que isso, ele me aconselhou a criar também uma escolinha de kart e disse que com isto eu conseguiria me sustentar bem. Assim, em 1999, eu montei a equipe.
6) E esta escolinha, como foi a história?
Eu criei a escola e me associei ao Cacá Bueno. Juntos nós trabalhamos por três anos na formação de vários pilotos e éramos, efetivamente, a única escola que tinha o aval da FAERJ (Federação do Rio) e da própria CBA para, até mesmo, graduar pilotos de categoria.
Vários destes pilotos estão correndo até hoje, competindo aqui conosco.
7) E a vinda para São Paulo, como aconteceu?
A ONS veio para São Paulo em 2007, mas, batalhamos muito no Rio antes. Começamos a receber pilotos sem experiência alguma e descobri que o meu grande diferencial era realmente o de formador de pilotos.
Pegávamos pilotos vindo da escolinha e as vezes até sem experiência nenhuma e íamos ensinando passo a passo as coisas. Até hoje o perfil da nossa equipe é assim. Ficávamos indignados porque nós vínhamos para as provas em São Paulo e, nos primeiros treinos, a turminha ia até bem, mas, quando a pista começava a emborrachar, os meninos ficavam completamente perdidos e aí começava o trabalho pesado de ensinar.
Mas, sempre nos Brasileiros, nossos pilotos ficaram entre os 10 primeiros.
8) E a escolinha, continua?
Não. Infelizmente com a minha vinda para São Paulo em 2007 eu não conseguia mais tocar o negócio e, assim, precisamos fechar no ano seguinte.
Mas, eu quero retomar este projeto. Acho extremamente importante e valioso para a formação de qualquer tipo de pilotos. Porém, antes disso, eu quero estruturar melhor a ONS. A equipe ainda não está do jeito que eu quero. Pode até ser que eu esteja sendo meio arrogante, mas, falta ainda bastante para nós para chegarmos a uma estrutura de equipe aonde eu quero chegar.
Quando a equipe estiver, realmente, andando sozinha, eu vou retomar o projeto. É uma coisa muito séria, mas, extremamente gratificante. Precisamos que as aulas sejam ministradas por pilotos e, obviamente, precisamos de parceiros comerciais.
Quero que a minha nova escolinha, assim como a antiga, seja oficial, com a chancela da CBA.
9) Como você vê o mercado de competições de motores sorteados e preparados como uma pessoa acostumada na formação de pilotos?
A vantagem dos sorteados é sem dúvida o custo. Quando o Light começou, por exemplo, ainda eram os motores à ar que quebravam facilmente e tinham um alto valor de manutenção. Isto, hoje em dia, até reduziu um pouco, mas, certamente, ainda é substancialmente mais barato competir com motores sorteados.
Os preparadores faziam quase que um leilão com os motores até que a maioria dos pais acabou abandonando o esporte.
Nos últimos quatro anos, se não fosse o Light, nós preparadores estaríamos em uma condição muito difícil, até mesmo de subsistência. Isto, com certeza, nós devemos muito ao Rafael e a RBC pela iniciativa e manutenção da competição. Realmente eu agradeço imensamente por isso porque foi onde nossa equipe, efetivamente, cresceu bastante. O Light se tornou um campeonato muito forte e que, efetivamente, formou e forma muitos pilotos.
10) A condição de motores preparados ajuda a formar um piloto mais completo?
Com certeza. O cara passa a ter que buscar mais dele, uma vez que ele sabe que os motores são semelhantes para todos. Tem que buscar mais de chassis, carburação, eixos, mangas, enfim… Eu acho que os pilotos, hoje em dia, tem que aprender a mexer nos equipamentos.
11) Você acredita que os incentivos oferecidos pelo Light ajudam a atrair pilotos e equipes para a competição?
Com certeza. O Light foi o primeiro campeonato a efetivar esta política de premiação e eu achei a iniciativa da RBC de criar, por exemplo, o GP RBC, fantástica e deve continuar.
Eu não consigo entender porque algumas equipes abandonaram o Light este ano, uma vez que é um Campeonato que sempre buscou o que tinha de melhor para os pilotos e os profissionais envolvidos. Quando você se inscreve em uma competição a primeira coisa a ser feita é se inteirar de seu regulamento. Se no caso do Light, por exemplo, o regulamento diz que são motores sorteados e você pode solicitar quantas trocas achar necessário eu acho que você está ciente das coisas.
Agora, se você pega um equipamento e acha que ele não está muito competitivo, solicita a troca e começa a criar intrigas e fofocas em torno disso, a pessoa efetivamente não é muito séria. O regulamento é muito aberto em relação às trocas.
O problema é que todo mundo que ganhar todas as corridas e isto, realmente, não existe. Os próprios preparadores tem que mudar esta mentalidade. Aqui na nossa equipe já aconteceram várias situações de termos que trocar de motor, pegarmos um novo equipamento mais veloz e o piloto conseguir ganhar corrida. Isto para mim não é desculpa e sim uma fuga de quem, efetivamente, não quer somar.
12) O que você acredita que pode melhorar a condição do Light?
Primeiro lugar eu acho que apesar do pessoal reclamar um pouco de que a pista da Aldeia é fácil, este kartódromo segue os mesmos padrões das pistas da Europa e eu acredito que aqui tem sim, várias especificidades. Assim como o Velopark, por exemplo. São duas pistas de média-alta velocidade. Eu falo isso como piloto e chefe de equipe.
Interlagos é uma pista de média e que na minha opinião é a melhor pista, mas, cada uma tem suas características e suas dificuldades.
Agora, o que realmente pode ser feito para melhorar no Light é, efetivamente, a redução de custos de inscrição. Apesar do pai do piloto economizar no motor, ele hoje paga um preço de inscrição e treinos muito alto, chegando próximo a mil reais por etapa. Eu acredito que se efetivamente conseguirmos baixar este custo para se igualar ao de outras competições aqui mesmo de São Paulo, os preparadores passam a perder o argumento de levarem os pilotos para outras provas e, assim, o grid daqui voltará a crescer.